quarta-feira, 14 de maio de 2014

Raiva



13.05.14

Raiva! Eis o meu sentimento agora. Sei que é feio sentir isso, mas não posso evitar. Por que o mundo gay é assim? Tão, tão, mas tão fútil? Tão piranha? Tão... argh, deixa pra lá! Mas espera aí, deixar pra lá? Como? Se de novo me aconteceu o que me vive acontecendo?! Criar expectativas, gerar ilusão, sair para um encontro, trocar olhares, sorrisos, elogios (não que essas três últimas citações me aconteçam sempre) e mensagens de desejos não realizados para depois virem a continuar sendo desejos não realizados.

Raiva, por ter mais uma vez achado que poderia ter sido ele o cara certo. Raiva, por mais uma vez criar expectativa. Por cansar de esperar. De estar sozinho há muito tempo e de sempre tentar cuidar do meu jardim esperando que a maldita borboleta venha, ou o beija-flor, tanto faz. E como já dizia o sábio Cazuza, eu vou 'desperdiçando o meu mel, devagarzinho, flor em flor, entre os meus inimigos, beija-flor.'

A cada desejo não realizado, o gelo aumenta, a indiferença cresce dentro de mim. E eu juro, ah, como eu juro, que eu tento ignorar tudo isso, todo esse turbilhão de pensamentos e sentimentos. Tento não pensar em correr atrás de niguém, de não procurar em cada esquina um amor (oi?), em cada pessoa que passa e/ou senta ao meu lado no metrô... isso cansa! Posso ser forte, posso ter o coração de gelo, mas na verdade, tudo que quero é acalentar esse troço que insiste em bater dentro de mim (ainda bem). É tão difícil achar alguém maneiro, interessante e que me desperte isso tão forte desse jeito, que quando acontece, tenho vontade de me entregar por completo. Oi? Me entregar por completo? Tá pra nascer alguém que me fará fazer isso, mas que tenho vontade (e medo), eu tenho.

O que ele queria? Me conhecer somente? Até aí tudo bem, mas por que marcar um novo encontro pro dia seguinte? Por que dizer que quer beijar meus lábios na próxima vez que me encontrar? (Isso mesmo, não nos beijamos no primeiro encontro. O QUE É SUPER RARO NO MUNDO GAY!) E ao fim do encontro, ele me fala que adorou o passeio e que gostaria de me ver ainda na mesma semana? Ah, só pode tá de sacanagem!

As vezes dá vontade de desistir. De não ficar com mais ninguém. De ser sozinho pra sempre. Viver de amizade, mas quem é que vive de só amizade, gente? Tudo mundo anseia uma paixão! Talvez isso tudo seja carência... talvez? (risos) É meu caro, pior que os mais fortes também caem. E não me venha dizer que não, que sim, também temos dias de merda, infelizmente. Também somos humanos. E me abrir é tão difícil... E quando quero dizer me abrir, é abrir meu coração e por em palavras o que estou sentindo bem lá no fundo. É bem difícil, pois as pessoas estão habituadas à solidão, à vulgaridade, ao 'isso normal'. Cara, pode ate ser “normal", mas ainda acho estranho algumas situações.

Tento continuar a ser o cara romântico que um dia tanto fui. Tenho minhas necessidade e luto contra elas, mas oh Deus, é difícil quando se luta sozinho. O que quero dizer é, as vezes não quero pegação, só quero conhecer o cara e deixar rolar sem pressão (até rimou), mas dai, ele quer passar a mão onde não deveria. E ai de mim se digo não! Sou idiota, tô querendo me fazer de santo, que eu isso, que eu aquilo... ah meu, vai se foder! Fique feliz de eu ter dito não pra você (caso aconteça), pois isso significa que eu não quero só aquilo e que o aquilo, pode esperar mais um pouco. Vamos aproveitar o beijo, o mundo ao nosso redor, nosso momento, pois o 'aquilo', uma vez que o tivermos, já não vai ser mais tão interessante como quando nos interessamos pela primeira vez. Queria que o cara se interessasse por mim, pelo o que eu sou, antes de se interessar por como eu sou na cama! Isso é consequência e pode vir na hora certa, em um outro momento mais caliente. Porque não segurar mais? Me ajuda a dizer 'não'.

Onde está o romantismo? Tudo tem que ser direto ao ponto! Não que eu não goste de ir direto ao ponto, mas cair na rotina enche o saco. E o que fizemos, melhor, o que não fizemos (eu e motivador da raiva) foi maravilhoso. Foi fora da rotina. Foi sair do comum. Foi olhar no olho um do outro sem maldade, foi sentir o perfume em seu pescoço e querer sentir de novo, foi comentar sobre cada urso (141) da exposição (United Buddy Bears) calmamente como se não estivesse frio, foi falar sobre como a lua estava linda e céu estrelado por trás da pedra do Leme com os coqueiros em seu topo, de como o mar estava revolto, e por isso , ouvir a explicação do pescador sobre ele não estar pescando muitos peixes, foi sentir a pele fria da perna dele e querer aquecer, foi andar de bicicleta e o mais incrível, ter um encontro sem celular e sem relógio (pois esquecemos em casa). Éramos apenas eu, ele e o universo. Tudo estava perfeito, até o dia seguinte.

Raiva, é o que sinto agora. Não por ele, ou por ele, mas sim por ter tido algo tão especial com uma pessoa que pareceu ser tão legal e no dia seguinte, me ignorar. LITERALMENTE me ignorar. Ai que raiva... por que os seres humanos são assim?